Felizmente, não deu pra evitar. A gloriosa polícia civil do Estado de Minas Gerais perdeu mais um de seus policiais. Nada demais. Apenas outra vaga a ser preenchida no edital do próximo concurso. Foi só um escrivão de polícia que, diante de uma história pautada em excesso de trabalho, alguns momentos engraçados e muito, mas muito sofrimento, acabou de deixar a corporação sem sequer ser ouvido.
Há de convir que as marcas que ficaram no meu coração e pelo resto do corpo, dificilmente serão apagadas.
Foram noites revirando na cama. Os dedos aprenderam a trabalhar mesmo contra a minha vontade. E os olhos, esses nunca mais serão os mesmos.
O meu sonho de ser funcionário público, de ter estabilidade e uma vida digna, foram transformados num grande e temeroso pesadelo.
Ao abdicar os amigos, família e tudo mais para construir outra vida por causa do trabalho em regime escravo do governo, acabei perdendo parte da minha identidade, do meu jeito de ser, da minha ambição natural. Tornei-me alguém mais padronizado, alienado e menos humano, como eles querem que todos sejam.
Fiz quase tudo que afirmei não me dispor. Cometi mais erros do que acertos. Quase deixei de lado a vontade de viver pelo sacrifício de intermináveis histórias, absurdos registros e tremendas torturas, das quais não espero (e nem quero) recompensas. Fui super herói e ajudei a prender alguns bandidos. Fui medíocre, ao ajudar a lei para encarcerar alguns inocentes.
Ainda sinto dores, principalmente nas costas e na consciência, pelas intermináveis horas sentado na frente do computador. A frieza e a indiferença quase me fizeram esquecer como era chorar e ficar arrependido.
Injustiça, corrupção, impunidade, esperança, tudo isto finalmente acabou.
Só sei mesmo é que estou tranqüilo poque de tudo tentei, fracassando e desistindo, morri na praia.
Perdedor, hoje posso fechar meus olhos e não preciso pensar em mais nada. Os finais de semana voltaram a existir. Tenho que novamente temer um julgamento ao invés de julgar atitudes dos outros. Voltei a ser mortal, a estar do lado do qual nunca devia ter saído, a fazer parte da sociedade que respeita a imortalidade, o poder e a ganância daqueles tidos como deuses, mas que mais se assemelham aos demônios. Estou sorridente por novamente ser refém de regras, de um sistema com lacunas, graves falhas, que encobertam e escondem uma porção de coisas por debaixo dos panos.
Salve, salve... a gloriosa! Foram dois anos e um grande aprendizado.
Respiro fundo. Estou exonerado. Aqui recomeça a minha chance, a minha vida. Sem armas, algemas, sem histórias, nem tormenta ou medo... apenas com liberdade, ainda que tardia.
Obrigado a todos aqueles que me acompanharam durante todo esse tempo. Quem sabe um dia eu volte a escrever...?
Por enquanto, sigo com outros planos. Pretendo transformar o blog num livro e darei notícias!
Aguardo por comentários e despedidas!
O depoente