terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Minha nova casa

Assim como em toda mudança, em algumas coisas ganhamos e outras perdemos. Vocês devem se lembrar dos meus dizeres: vou desistir, não agüento mais... mas graças a contatos fortíssimos, fazem alguns meses que sim, consegui ser transferido!

O mundo sempre funcionou e vai continuar funcionando com política, influências, interesses. Nada acontece por mero acaso ou simples mérito. Tem que haver algo mais.

Pois bem, na minha nova casa encontrei muita coisa errada e quase nenhuma certa. Na verdade, a proporção foi bem maior do que esperava.

Aqui os colegas dormem durante o expediente. Recusam-se a sequer receber ordens de serviço e chegam na sua sala perguntando o que fazer com um bandido. A corregedoria manda notificações quase toda semana. Tem aquela velha máxima de que os mais novos precisam (e devem) saber mais, trabalhar mais porque estão com a cabeça melhor, mais dispostos. Dinheiro? Há quem diga que quase todos recebem extra e isso é normal (?).

Tenho apenas um chefe, que nem é assim tão chefe. Uma das coisas que ganhei foi liberdade e autonomia. Não tem cobrança, nada de pressão. Porém não tem apoio, nada de colaboração. Ele não quer nem fazer uma portaria. Não relata, não pede nada. Fica absolutamente tudo por minha conta. Mas também não dá para querer ganhar tudo de uma vez? Impossível...

A bagunça era grande quando cheguei. Não havia sequer um arquivo e o material ficava espalhado por toda parte. Há boatos de que a responsável anterior usava as drogas apreendidas e vendia boa parte dos objetos em troca de algum dinheiro.

Se você me pergunta qual a vantagem ou a felicidade de estar num lugar desse tipo, eu lhe respondo: Voltei para casa, reconquistei meus velhos amigos. Não passo mais horas dentro do ônibus para ir estudar ou para ver as pessoas que eu amo. Consegui comprar um carro. Durmo melhor, faço academia, não tomo mais remédios e por aí vai.

Parece assustador lidar com um trabalho tão desordenado, lascivo e realmente seria se estivesse começando hoje. Mas, como dizem por aí, já sou macaco velho.

Então aprendi a conviver com o trabalho e não deixar que ele me afete depois do expediente. Ganhos e perdas. Parece engraçado, mas as perdas, ou melhor, as irregularidades, nem foram assim tão assustadoras. Temos que conviver com isso. Temos que tolerar e continuar fingindo de cegos. E posso dizer que sou um cego muito feliz.