quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pedido de Exoneração - Parte 1

Em virtude de fatos recentes e também alguns antigos, tenho pensado mais do que devia a respeito desse título.

Quem lê o meu blog, sabe como eu sou: reclamão, pessimista, realista... e já deve ter notado mais uma porção de coisas. Sabe a sensação de que você não tem vocação para aquilo? É o que eu tenho sentido com a polícia com mais freqüência ultimamente.

Antes de tudo, quero deixar claro que não é bom pensar assim, por imaginar como seria começar tudo de novo, ficar desempregado, correr riscos e voltar para a iniciativa privada ou estudar até morrer para outro concurso, etc.

Só queria acordar todos os dias e querer ouvir histórias novas, defender a sociedade, pensar que nunca serei mandado embora, que emendamos todos os feriados prolongados, que tenho passe livre no cinema e nas festas, baladas... Mas, acredite se quiser, isto não tem sido suficiente para me manter motivado. Parece mesmo é que tudo está cinzento e sem graça; que o salário é ruim, que estou com problemas de saúde, que quando não estou de folga, trabalho feito um escravo e que ir nas festas pode me dar problemas, presenciar coisas e ter que agir quando eu queria mesmo era me divertir, entende?

Vivo apreensivo por causa da impunidade e de pensar que bandido pode me abordar na rua, e descobrir que sou polícia, e por causa disto eu sofra as conseqüências. Trabalhar numa cidade que não conheço (e nem quero) conhecer ninguém, longe da família, dos amigos, do que me deixava feliz, por causa de um dinheiro que mal dá para pagar as despesas básicas?

Desculpa o desabafo, mas é que realmente não dá para ficar inerte quando penso nisto tudo, nos plantões que duram semanas, nas cobranças, na hierarquia e disciplina e vaidade dos superiores, do excesso de serviço e da responsabilidade (e pressão) que existe se você cometer algum erro por menor que ele seja.

Quando me submeti a provas e exames para ingressar na carreira pública, assim como todos os demais que prestam concurso, pensei que fosse ter um pouco de tranqüilidade e que fosse alcançar o tão sonhado emprego estável. Ledo engano caros leitores, ao menos na polícia.

Porque de que adianta ter vantagens se tenho que ficar inerte, se todo dia é uma repetição e a demanda de serviço é cada vez maior? Se os órgãos superiores da instituição são inacessíveis e seus resultados dependem de contatos, influências, e as coisas acontecem fora do que está previsto nas regras de procedimentos.

Outro problema é: Pra que serve o título de funcionário público, quando você é tão público, ao ponto de perder sua vida privada e ter que sujeitar a ficar vinte e quatro horas do dia à disposição do trabalho? Ter seu comportamento analisado e questionado pela sociedade? Por ter sempre que dar exemplo?

Outro ponto negativo é que o salário não acompanha os reajustes do mercado. Se nada mudar, serei promovido apenas daqui a cinco, talvez dez anos! Ao contrário da prometida estabilidade e realização, o que sinto é coação, incerteza, insatisfação.

Não existem punições para o desacato social, para aqueles que ofedem a sua dignidade e sobretudo não dão a devida importância e reconhecimento ao seu trabalho.

No que tange a chefia, o que tenho a dizer é que ainda não tive o privilegio de conhecer algum que não fosse vaidoso, ou ranzinza, ou ainda que tivesse a coragem de me fitar diretamente nos olhos.

Questione as jornadas de trabalho e será punido ou ameaçado por indisciplina.

Exponha seus problemas e então, será considerado inapto ou fraco no trabalho.

Mostre suas dores e as suas dificuldades para acabar caindo em uma sindicância ou processo administrativo.

Isto sem contar a corrupção, as irregularidades, as falcatruas que finjo não ver, ouvir ou querer falar a respeito.

Não há como remar contra toda a água que já contaminou o mundo, a humanidade e a cabeça daqueles que poderiam fazer alguma coisa, rever as leis, procedimentos e condutas. Simplesmente não existem soluções para este tipo de problema.

Volto à questão da exoneração e penso cada vez mais em tirar meu time de campo. Talvez não seja honesto da minha parte para com o sistema continuar em frente, mas tenho certeza que seria menos penoso e menos dolorido para mim se conseguisse fingir que nada disto é verdade e que eu agüento ficar nisto por mais muitos anos, décadas até me aposentar...

Ainda não posso dizer minha resposta ou o veredicto final, porém cada dia mais estou tentado a largar tudo isto e renascer. Sento, penso, reflito, desanimo e então quase desisto. Percebo que estou me tornando um hipócrita.

E enquanto a resposta não chega ou um milagre acontece, resta a mim apenas continuar a seguir em frente, sem titubear.

Esta história ainda não acabou, ela vai continuar.